terça-feira, 24 de novembro de 2009

Fin du Monde - Vous Croyez?

Ontem, em minha lamentável busca por algo que realmente valesse a pena ser assistido na televisão, fui forçada a abrir mão do controle remoto e prestar atenção no programa Super Pop. Não que valesse a pena, mas naquele momento me pareceu interessante. Sei que o programa me renderia boas risadas pelo absurdos ditos!

Como Comunicóloga, em minha visão crítica, excepcionalmente o programa de ontem causou-me mais do que repulsa, indignação... Foi um insulto, ou melhor, um "terrorismo a minha inteligência"... O assunto não poderia causar-me mais fadiga, mais uma vez a histórinha dos Maias, 2012!

Quem não tem um calendário?

Todo ano não vira?

E aí... O mundo acabou???

Melhor...

Aquelas crianças inocentes, jovens repletos de sonhos e planos, que são mandados aleatóriamente para guerras sem fim e que muitas vezes vêem seus sonhos morrerem em um campo de concentração, não é o fim do mundo para esses adolescentes???

Porém, a apresentadora Luciana de Gimenez não se deu por vencida e queria dissecar o assunto o máximo possível.

Imaginem... Entre os convidados presentes e os não presentes (sim, haviam convidados de outro mundo também), estavam os falsos profetas do apocalipse, entidades religiosas e uma pseudo sensitiva, uma senhora que me rendeu algumas risadas.

Celina, a tal sensitiva... Bom, essa vai render um parágrafo inteiro... Celina lembrou-me muito a famosa, insubstituível e impagável Mãe Dinah... Por falar nisso, será que a Mãe Dinah também não tem uma previsão catastrófica sobre 2012?! Está faltando ela no cenário apocalíptico!

Nunca em toda minha vida ouvi tanta baboseira, o Programa Super Pop superou minhas expectativas de coisas ruins... Deixou de ser um programa popular e sensacionalista, para tornar-se um Circo de Quinta.

Pois bem, a tal sensitiva antes de chegar ao Programa Super Pop deu uma pesquisada no Google sobre o assunto 2012. Chegou a citar até a Galáxia Alcione... Falou sobre o alinhamento dos planetas... Claro, que falou sobre isso sem uma certa coerência, não deve ter tido tempo para decorar o que foi pesquisado. Faltou ela falar sobre o Planeta Nibiru que se chocará com a Terra... Sobre as radiações solares cada vez mais fortes... Não deve ter tido tempo de ler sobre isso! Por favor, se alguém tiver o e mail dessa senhora, me passa, vou mandar alguns textos sobre o tão famigerado assunto fim do mundo. Assim, ela poderá utilizar em outros programas que desafiam a inteligência do ser humano, quem sabe no Programa do Gugu ou da Márcia.

Mesmo com muito esforço da pobre senhora sensitiva, ela não conseguiu responder as perguntas da insuportável Luciana Gimenez. Ficou tudo muito duvidoso, superficial, falso e sem nenhuma novidade, tudo muito previsível.

No entanto, Celina se superou ao dizer que todas as respostas eram transmitidas por meio de uma entidade que estava ao lado dela. Detalhe, a entidade a qual ela se referia era um E.T.

O pior, a Super Apresentadora ainda perguntou onde estava a tal da entidade E.T.!

Ai meu Deus... Fiquei apreensiva, será que o tal do E.T. apareceria "ao vivo", com exclusividade no Super Pop! Tirem as crianças da sala!!!

Contudo, Celina não deixou por menos... A resposta foi, que na verdade os seres iluminados transmitiam as informações por meio de energia... Chic bem!

Por favor, quem é o produtor desse programa??? Onde ele achou essa mulher??? Como pode permitir que uma pessoa dessas produza um programa?! E essa apresentadora dando corda a uma doida varrida!

E a Luciana Gimenez não se contentou e continuou dando corda para a louca e soltou mais uma pérola... "Tudo o que a senhora diz é igual ao filme (2012)".

Querida, lógico que é igual!A sensitiva também assistiu esse filme!!!

O auge da noite foi quando a apresentadora perguntou a um Bispo da Igreja Evangélica sobre a possibilidade de salvação no apocalipse. Do ponto de vista religioso, existe sim salvação... Salvação da alma. Luciana não se conteve: "Como assim da alma, quero saber sobre a salvação do corpo, não quero saber da salvação da alma".

Foi show de ignorância e a cada bloco Luciana Gimenez se superava.

Não me resta dizer mais nada, além de ter perdido a fé no ser humano, percebi o quanto existem pessoas querendo se aproveitar da fantasia do ser humano para espalhar a desilusão, a falta de amor e de esperança.

Qual o medo de Luciana??? Ir para o mesmo buraco que todo mundo???

Sim! 1/3 da população da Terra irá sumir... Podem chamar de resgate, apocalipse... Enfim... A verdade, é que isso já vem acontecendo, uma prova disso... Quantas pessoas morreram com essa gripe suína... Quantas pessoas morreram no Tsunami na Tailândia... Quantas pessoas morreram no ataque de 11 de setembro... Quantas pessoas morreram ano passado em Santa Catarina devido às chuvas... Quantas pessoas morrem todos os dias decorrentes a violência das grandes cidades... Quantas pessoas morrem todos os dias vítimas do terrorismo... Façam suas contas e tirem suas conclusões!

Tudo é um ciclo... A natureza se renova, transforma e evolui... O fim só existe para quem acredita nele!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Faute Pleure Encore

Ce fut une journée comme dimanche ... soleil et très chaud ... Tout à coup, tu as laissé ... Et avec tant d'amertume, j'ai voulu que je me reproche d'avoir laissé la colère prendre sur moi ...
Lembrei-me do aniversário de... É meio cruel associar aniversário com morte... Acho melhor "sobrevida", acho mais delicado... Deve haver uma continuação, né?!
Pois bem, lembrei-me de toda ausência e vazio...
Já não sou mais vítima, sou réu... Culpada... Condenada há 13 anos a conviver com os meus fantasmas e traumas...
Não! Ele não foi mau pai, quem sou para julgá-lo, apesar de todos os desabores da nossa relação "pai e filha", ainda tenho boas e ternas lembranças... Foi o que restou de melhor, somando-se a saudade daquilo que deixamos de viver...
Na realidade, procuro redenção pelas minhas palavras mal ditas em um momento errado!
Complicado uma criança assimilar uma perda e administrar uma culpa, não tive discernimento... A impressão que tenho, é que parei no tempo... Perdida no sofrimento...
Verdade seja dita, a ausência de uma figura paterna atrapalhou muito o meu desenvolvimento, sempre fez e ainda faz muita falta...
É a base de tudo... Acho que me faltou esse tipo de referência...
Agora sinto a complexidade dos sentimentos e convivo cada ia mais com essa "dívida"...
Fico perdida no "e se..."!
"E se o meu pai estivesse vivo? E se eu pudesse ajudá-lo"
"E se fosse diferente???"
Et si j'avais pensé autrement...
Levo um sorriso no rosto e uma grande força para persistir ... É natural e humano fraquejar no meio do caminho...
Sinto que o vazio ainda  permanece em meu coração!



segunda-feira, 16 de novembro de 2009

SOU ASSIM...


Minha bagunça mora aqui dentro de mim, pensamentos dormem e acordam, nunca sei a hora certa...
Estou perdendo o meu eixo, mas não páro nunca...
Gosto mesmo é de questionar, perco o rumo, mas ainda sei onde quero chegar, mesmo sem saber como!
Não gosto de meias palavras, meias verdades, de gente morna...
Admiro aqueles que seguem o coração, aquelas pessoas que possuem a liberdade de ser...
Eu vivo para sentir, sou intensa, exagerada, dramática, curiosa, ácida... Sou criança crescida, e mesmo pequena, não deixo de crescer... Trabalho feito gente grande, fico séria, traço metas...
Escrevo escondido, sem censura, sem frescura, sem medo....
Aprendi que palavra é igual oração: tem que ser inteira senão perde a força. E força não há de faltar porque aqui dentro eu carrego o meu mundo.
Nasci assim: preciso sentir antes de pensar!
Arrisco... Machuco... Choro... Me reconstruo... Me conheço!!!
Sou assim... Um pouco de tudo e de todos... Por favor, não tente mudar a minha essência...
A MINHA HORA DA ESTRELA!


O primeiro romance que li da Clarice Lispector foi A Hora da Estrela (sim, estou falando dela de novo!). Não li por obrigação, com certeza quem leu esse livro sabe que é um imenso prazer ler esta história tão inteligente e complexa.
A cada página me envolvia mais com a personagem Macabéa... Não! Não sou uma retirante nordestina, não tenho o corpo franzino, não estou doente e tão pouco tenho maus hábitos de higiene... Mas, isso são apenas detalhes que tornam Macabéa viva, humana!
No fundo Macabéa não sabe quem é, e sei que cada um de nós também possui dúvidas sobre quem somos. Vivemos um processo constante de “redescobrimento”. A cada dia somos uma nova pessoa, não há nada mais mágico e natural que renovação... Redescobrir-se a cada dia, eis um exercício que deveríamos fazer constantemente. Redescobrir os defeitos, as qualidades... Redescobrir o amor, a amizade, gostos, desgostos e por aí vai.
Assim como a autora propõe, “que cada um reconheça a si mesmo”.
Foi pensando na delicada e intensa história de Macabéa, que decidi me redescobrir, despertar e fazer acontecer a minha hora da estrela.
“TUDO NO MUNDO COMEÇOU COM UM SIM”
Há pouco tempo redescobri escrever... Ahhhhh! Como gosto de escrever... Ser eu mesma, sem me preocupar com o julgamento alheio (no fundo sempre nos preocupamos). Não sei fazer outra coisa e não há nada que me faça tão feliz quanto escrever o dia inteiro (me senti tão feliz em passar meia hora do meu tempo escrevendo esse texto).
Já afirmei em outros momentos que ainda tenho muito para aprender e para isso estou nesse mundo, não sou pretensiosa.
Escrever é um dom, sensibilidade, inspiração... Tem que saber enxergar, ouvir...
Não basta escrever corretamente, saber concordância ou onde colocar as vírgulas, tem que cativar, criar vínculos.
Outro dia remexendo nas minhas lembranças encontrei um livro, “Pátria dos Poetas” e na contra-capa havia uma dedicatória, “À futura escritora”.
Durante alguns anos esqueci esse livro no fundo da gaveta, assim como havia esquecido meus propósitos... Confesso que me decepcionei um pouco com a profissão de jornalista, tudo ficou tão comercial, o brilho se perdeu.
Ganhei o livro em um Concurso Literário, primeiro lugar, lembro que escrevi um texto simples, mas sincero... De alguma forma cativei a banca examinadora com as minhas palavras. Essa pequena conquista só alimentou ainda mais o meu sonho.
Não sei dizer em que instante da vida deixei esse sonho guardado no fundo de uma gaveta qualquer...
Acredito que este é o momento de dizer SIM a “minha” hora da estrela!
“É PRECISO DIZER SIM PARA QUE ALGO ACONTEÇA”
(Clarice Lispector)

Lembranças...


Outro dia estava em frente a um restaurante quando uma moça, aparentemente de trinta anos, passeava de braços dados com o seu pai.
Por alguns minutos fiquei ali, observando atenciosamente o movimento dos dois... Também não pude deixar de prestar atenção na conversa deles.
Acredito que o pai dela estava com fome e queria entrar no restaurante, mas a moça delicadamente contestou e ainda ressaltou que o pai teria que voltar para fazer alguns exames, era imprescindível que ele estivesse em jejum.
Sei que parece estranha essa minha atitude, mas a verdade, é que aquela cena me fez lembrar do meu pai.
Perdi meu pai muito bruscamente, de uma hora para outra, sem um motivo aparente ele deixou de existir na minha vida.
Às vezes, fazemos tantos planos e esquecemos que talvez não tenhamos tempo de realizá-los.
Foi assim que entendi, aos quatorze anos, em um fim de tarde de domingo recebi a notícia que o meu pai havia falecido.
Imaginava que ele acompanharia todos os meus passos, vibraria com as minhas conquistas, apoiaria os meus sonhos, me daria broncas cada vez que eu chegasse tarde em casa... Imaginei que um dia meu pai veria a mulher que eu me tornei hoje.
Não sou uma pessoa amargurada por causa dessa perda, é claro que deixou um vazio grande na minha vida, mas sou bem resolvida.
É inevitável, quando me deparo com cenas como a do restaurante, que eu não me questione sobre a possibilidade se o meu pai estivesse vivo. Será que eu também sairia pelas ruas de braços dados com ele? Será que ele ainda sentiria ciúmes de mim, assim como sentia quando era criança? Será que nas horas vagas sairíamos para tomar sorvete e jogar conversa fora? Como seria sua aparência hoje? Será que ele teria parado de fumar ou parado de tomar o seu uísquinho?
São perguntas que jamais terão uma resposta...
Este é o vazio que nada preenche...
Quando meu pai faleceu, por um breve momento pensei que eu morreria junto, sem exageros! Durante algum tempo, ainda tinha a esperança de que a qualquer momento ele entraria pela porta de casa, ou que eu o encontraria em qualquer esquina ou padaria, sentado jogando conversa fora com seus amigos. Ao contrário, tive que aprender a conviver com a sua ausência e a realidade me amparou.
No entanto... Ainda sinto muita falta dele, é bem provável que eu conviva com essa saudade até o fim da minha vida. Contudo, hoje, não se trata de uma saudade ruim... É uma saudade que me cala a voz e enche o meu coração de esperança e alegria. Esperança, porque acredito que exista um espaço reservado para um dia nos encontrarmos. E alegria, pois só tenho coisas boas para lembrar.
Ah! Como os dias ficaram em silêncio quando ele se foi, já não escuto mais aquela gargalhada espontânea por qualquer graça que eu fizesse, ou as piadinhas fora de hora, já não tenho mais sua companhia para me ajudar a pentear os cabelos de minhas bonecas, ou para assistirmos à corridas de carrinhos movidos a controle remoto, ou para passarmos à tarde inteira assistindo desenho e Chaves... Os almoços ficaram meio sem gosto e o café da manhã, nunca mais fui surpreendida com aquelas esfihas fresquinhas de queijo, também não ganhei mais flores no meu aniversário... Nos finais de semana já não escuto músicas com volume alto, não tenho mais aquela gatinha siamesa que o meu pai me deu, ela também não suportou sua ausência...
Como me faz falta andar de braços dados pela rua com o meu pai!
Tenho apenas lembranças...
Sobre texto da Revista Nova


Não tem sido fácil manter esta página atualizada.
É uma palavra ali, uma vírgula aqui, um parágrafo acolá...
Mas não há nada como escrever um texto bem feito, não somente para os outros, mas também para minha satisfação pessoal. Alias, sempre tentei escrever com tanto capricho e atenção, que quando eu não consigo é melhor nem me atrever.
Entre um toque de telefone e outro, ou no meio de um relatório, ou até mesmo fazendo um arquivo, sempre me surgem palavras soltas... Engraçado, vem meio sem por que ou ordem definida, chego a falar sozinha com as minhas próprias palavras. Tento prendê-las, para que elas não se percam, até que eu tenha um tempo livre para colocá-las no papel.
No entanto, nas últimas semanas mal consigo acessar o programa da Microsoft Word...
Com isso a inspiração vai sumindo, as palavras vão se apagando e até sinto a minha identidade se perdendo.
Ontem eu estava lendo uma dessas revistas de “mulherzinha” e em uma das seções havia um texto de um psiquiatra, era um daqueles textos de auto-ajuda.
Ok! Fui seduzida pelo título da matéria – “É possível trabalhar no que se gosta”.
Óbvio que trabalho no que gosto, me conheço e sei que não saberia ficar muito tempo em um lugar por obrigação, sendo infeliz. Porém, acredito viver em um grande paradoxo, pois agradeço todos os dias pelo meu trabalho, por outro lado sei que tenho outros sonhos mais fortes e intensos.
Tive a ilusão de encontrar no tal texto da revista a resposta para meus anseios. É verdade que o texto era bastante motivador, havia uma declaração do próprio psiquiatra afirmando ter trabalhado durante muitos anos em uma área diferente da que ele escolheu, mas era na área da saúde o que o ajudou muito.
O psiquiatra começa o texto dizendo que recebe e mails de mulheres descontentes com seus empregos, são psicólogas trabalhando com vendedoras e jornalistas trabalhando como secretárias. Sim, a carapuça me serviu muito bem!
Na realidade, não queria ser mais uma na estatística. Apesar de saber que o problema não está em mim ou em outras jovens assim como eu.
O psiquiatra ainda fala sobre dedicação, sobre querer muito algo... Poxa, a intenção dele até valeu, acho que ele até cumpriu o seu papel. Contudo, será que ele tem consciência da DEDICAÇÃO de cada jovem que escreveu um e mail para ele ou até mesmo da minha dedicação em que me permiti por um segundo parar todas as minhas obrigações para escrever este texto?
A questão vai mais além do que dedicação ou esforço.
Em quanto isso continuo aqui, tentando modificar a rotina, transformando os meus sonhos em palavras soltas e desordenadas. Em quanto eu tiver motivação e criatividade para escrever, saberei que é exatamente isso que me manterá viva e feliz.
(28/07/2008)
QUERO SER CLARICE LISPECTOR


Desde muito cedo sempre tive um verdadeiro fascínio pelas palavras, ainda sem mesmo saber escrever direito já rabiscava as minhas primeiras frases.
Lembro-me do meu avô dizendo que ainda seria uma jornalista, mesmo sem saber direito o que era isso.
Na verdade, até hoje não sei o que é ser jornalista, ou como me tornar uma. Mas, hoje para mim já não importa. Parece que a classe jornalística perdeu um pouco do seu próprio brilho!
Sim, ainda existem tantos outros jornalistas brilhantes...
No entanto, lembro-me de uma jornalista em especial, alguém sem mesmo saber sobre a minha existência me inspirou e ainda me motiva cada dia a seguir a profissão, Clarice Lispector.
Conheci a obra da Clarice (acho que posso me referir assim, com intimidade), quando ainda estava na adolescência e me apaixonei. Tudo o que estava escrito em cada página de seus livros, era exatamente o que eu queria gritar para o mundo ouvir, houve uma identificação imediata.
Fiquei fascinada, como alguém poderia escrever a verdade com imensa poesia!
Decidi que faria a faculdade de jornalismo muito cedo, sem mesmo saber se estava tomando a decisão correta.
Quando entrei na faculdade, havia uma matéria denominada Produção Jornalística, mesmo gostando de escrever, não gostava da disciplina, ou de sua metodologia. Dentro da sala de aula, o professor dava prazos para que escrevêssemos.
Assim como a Clarice, gostava de escrever sem obrigação, sem regras, sem prazos, sem me preocupar com o julgamento alheio. Gostava de escrever com doçura e sensibilidade.
Certo dia, este mesmo professor sugeriu que todos os alunos escrevessem um conto e entregassem na aula seguinte.
Escrevi um conto muito pessoal, até hoje me lembro... Escrevi sobre as refeições matinais na companhia do meu pai, onde até as migalhas de pães deixadas na mesa tinham sua importância em nosso café da manhã. Descrevi com riqueza de detalhes aquele momento, que era tão íntimo.
Na aula seguinte, com os textos corrigidos, este mesmo professor me chamou em particular e afirmou que eu havia feito um “copy page” (uma cópia) de um texto da Clarice Lispector. Grifou várias frases minha e disse que conhecia todas aquelas citações de obras da Clarice, porém o tal professor disse que provaria o meu “crime”.
Saí da sala de aula chateada e até pensei em nunca mais escrever... Será que me faltava talento?!
Depois, com calma, pensei bem... Se o meu professor achou realmente que eu havia copiado as palavras da Clarice Lispector, logo, eu de fato consegui expressar todo meu sentimento com clareza e coesão por meio das palavras.
Quanto ao meu professor, mesmo tendo se passado tanto tempo, ele nunca conseguiu provar nada... Afinal, o texto era meu! E eu nunca consegui agradecê-lo por ter me elogiado indiretamente.
Sei, ainda tenho que comer muito arroz e feijão para ser tão brilhante como a Clarice. No fundo, espero que o tempo seja generoso comigo em me presentear com sentimentos essenciais e sinceros para poder escrever belos textos como os de Clarice Lispector.
Quem sabe, eu tenha um pouco de Clarice dentro de mim!
Amo escrever...