segunda-feira, 16 de novembro de 2009

QUERO SER CLARICE LISPECTOR


Desde muito cedo sempre tive um verdadeiro fascínio pelas palavras, ainda sem mesmo saber escrever direito já rabiscava as minhas primeiras frases.
Lembro-me do meu avô dizendo que ainda seria uma jornalista, mesmo sem saber direito o que era isso.
Na verdade, até hoje não sei o que é ser jornalista, ou como me tornar uma. Mas, hoje para mim já não importa. Parece que a classe jornalística perdeu um pouco do seu próprio brilho!
Sim, ainda existem tantos outros jornalistas brilhantes...
No entanto, lembro-me de uma jornalista em especial, alguém sem mesmo saber sobre a minha existência me inspirou e ainda me motiva cada dia a seguir a profissão, Clarice Lispector.
Conheci a obra da Clarice (acho que posso me referir assim, com intimidade), quando ainda estava na adolescência e me apaixonei. Tudo o que estava escrito em cada página de seus livros, era exatamente o que eu queria gritar para o mundo ouvir, houve uma identificação imediata.
Fiquei fascinada, como alguém poderia escrever a verdade com imensa poesia!
Decidi que faria a faculdade de jornalismo muito cedo, sem mesmo saber se estava tomando a decisão correta.
Quando entrei na faculdade, havia uma matéria denominada Produção Jornalística, mesmo gostando de escrever, não gostava da disciplina, ou de sua metodologia. Dentro da sala de aula, o professor dava prazos para que escrevêssemos.
Assim como a Clarice, gostava de escrever sem obrigação, sem regras, sem prazos, sem me preocupar com o julgamento alheio. Gostava de escrever com doçura e sensibilidade.
Certo dia, este mesmo professor sugeriu que todos os alunos escrevessem um conto e entregassem na aula seguinte.
Escrevi um conto muito pessoal, até hoje me lembro... Escrevi sobre as refeições matinais na companhia do meu pai, onde até as migalhas de pães deixadas na mesa tinham sua importância em nosso café da manhã. Descrevi com riqueza de detalhes aquele momento, que era tão íntimo.
Na aula seguinte, com os textos corrigidos, este mesmo professor me chamou em particular e afirmou que eu havia feito um “copy page” (uma cópia) de um texto da Clarice Lispector. Grifou várias frases minha e disse que conhecia todas aquelas citações de obras da Clarice, porém o tal professor disse que provaria o meu “crime”.
Saí da sala de aula chateada e até pensei em nunca mais escrever... Será que me faltava talento?!
Depois, com calma, pensei bem... Se o meu professor achou realmente que eu havia copiado as palavras da Clarice Lispector, logo, eu de fato consegui expressar todo meu sentimento com clareza e coesão por meio das palavras.
Quanto ao meu professor, mesmo tendo se passado tanto tempo, ele nunca conseguiu provar nada... Afinal, o texto era meu! E eu nunca consegui agradecê-lo por ter me elogiado indiretamente.
Sei, ainda tenho que comer muito arroz e feijão para ser tão brilhante como a Clarice. No fundo, espero que o tempo seja generoso comigo em me presentear com sentimentos essenciais e sinceros para poder escrever belos textos como os de Clarice Lispector.
Quem sabe, eu tenha um pouco de Clarice dentro de mim!
Amo escrever...

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