segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Lembranças...


Outro dia estava em frente a um restaurante quando uma moça, aparentemente de trinta anos, passeava de braços dados com o seu pai.
Por alguns minutos fiquei ali, observando atenciosamente o movimento dos dois... Também não pude deixar de prestar atenção na conversa deles.
Acredito que o pai dela estava com fome e queria entrar no restaurante, mas a moça delicadamente contestou e ainda ressaltou que o pai teria que voltar para fazer alguns exames, era imprescindível que ele estivesse em jejum.
Sei que parece estranha essa minha atitude, mas a verdade, é que aquela cena me fez lembrar do meu pai.
Perdi meu pai muito bruscamente, de uma hora para outra, sem um motivo aparente ele deixou de existir na minha vida.
Às vezes, fazemos tantos planos e esquecemos que talvez não tenhamos tempo de realizá-los.
Foi assim que entendi, aos quatorze anos, em um fim de tarde de domingo recebi a notícia que o meu pai havia falecido.
Imaginava que ele acompanharia todos os meus passos, vibraria com as minhas conquistas, apoiaria os meus sonhos, me daria broncas cada vez que eu chegasse tarde em casa... Imaginei que um dia meu pai veria a mulher que eu me tornei hoje.
Não sou uma pessoa amargurada por causa dessa perda, é claro que deixou um vazio grande na minha vida, mas sou bem resolvida.
É inevitável, quando me deparo com cenas como a do restaurante, que eu não me questione sobre a possibilidade se o meu pai estivesse vivo. Será que eu também sairia pelas ruas de braços dados com ele? Será que ele ainda sentiria ciúmes de mim, assim como sentia quando era criança? Será que nas horas vagas sairíamos para tomar sorvete e jogar conversa fora? Como seria sua aparência hoje? Será que ele teria parado de fumar ou parado de tomar o seu uísquinho?
São perguntas que jamais terão uma resposta...
Este é o vazio que nada preenche...
Quando meu pai faleceu, por um breve momento pensei que eu morreria junto, sem exageros! Durante algum tempo, ainda tinha a esperança de que a qualquer momento ele entraria pela porta de casa, ou que eu o encontraria em qualquer esquina ou padaria, sentado jogando conversa fora com seus amigos. Ao contrário, tive que aprender a conviver com a sua ausência e a realidade me amparou.
No entanto... Ainda sinto muita falta dele, é bem provável que eu conviva com essa saudade até o fim da minha vida. Contudo, hoje, não se trata de uma saudade ruim... É uma saudade que me cala a voz e enche o meu coração de esperança e alegria. Esperança, porque acredito que exista um espaço reservado para um dia nos encontrarmos. E alegria, pois só tenho coisas boas para lembrar.
Ah! Como os dias ficaram em silêncio quando ele se foi, já não escuto mais aquela gargalhada espontânea por qualquer graça que eu fizesse, ou as piadinhas fora de hora, já não tenho mais sua companhia para me ajudar a pentear os cabelos de minhas bonecas, ou para assistirmos à corridas de carrinhos movidos a controle remoto, ou para passarmos à tarde inteira assistindo desenho e Chaves... Os almoços ficaram meio sem gosto e o café da manhã, nunca mais fui surpreendida com aquelas esfihas fresquinhas de queijo, também não ganhei mais flores no meu aniversário... Nos finais de semana já não escuto músicas com volume alto, não tenho mais aquela gatinha siamesa que o meu pai me deu, ela também não suportou sua ausência...
Como me faz falta andar de braços dados pela rua com o meu pai!
Tenho apenas lembranças...

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